segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lembrança

2002 - Cabo Verde
Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto. 
 Depois,
não sei porquê nem porque não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.
Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira! 
 Miguel Torga 

sábado, 28 de abril de 2012

Um homem de coragem

2012 - Azenhas do Mar
Disse um dia destes Miguel Portas: "Fui sempre mais de jogar fora do baralho."
Houvesse mais Homens destes, com a coragem de sair de um dos dois baralhos da política portuguesa e Portugal poderia ser um outro país
Mas a passagem de homem de rebanho para homem livre não é fácil.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pesca dos frágeis

2011 - Caneiras - santarém
Quando o pescador lançou as redes, pensei nos políticos deste pobre país.
As malhas das redes que usam são tão estreitas que apanham todo peixe pequeno.
Mas são tão frágeis que qualquer peixe mais graúdo as rompe.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril

2011 - Salgueiro Maia - Santarém
Naquela já distante noite, quando eu dormia, os soldados de Abril encheram o povo de esperança.

Hoje tenho uma certa sensação de amargura. O que outrora foi uma manhã de sol radioso, que prometia inundar todo um povo, é agora um triste dia de nevoeiro.



terça-feira, 24 de abril de 2012

Dia de saudade

2012 - Azenhas do Mar
Vi as casas construídas bem no alto das arribas.
Admirei homens que voavam em parapente muito acima das casas.
E, embora não te conseguisse ver porque a minha visão é limitada, senti a tua presença e relembrei o teu sorriso.

domingo, 8 de abril de 2012

Vidas moldadas

O banco vergou.
Mas antes de vergar sentiu a alegria e tristeza, o amor e ódio de quantos por ali se sentaram.
Depois o banco cedeu, adaptou-se ao peso e à dimensão dos problemas das pessoas que por ali se sentavam.
E as próprias pessoas foram também moldando o seu sentir, adaptando-se, sobrevivendo, agarradas a um fio do que foi um caudal de vida e de amor.