quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Marés

Perdida nos campos da Azambuja esta avenida de Palmeiras faz lembrar África.
O rio que por ali passa é bem diferente dos rios que existem um pouco mais para norte. Este tem marés como as do mar.
E as marés eu não as conhecia nos ribeiros da minha meninice.
Mas que conhecia eu nesses tempos?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Manas

No verão de 1979 encontraram-se as três irmãs em Vila Real de Santo António.
Foi talvez a única vez em que posaram juntas para uma foto.
A Ludovina era uma excelente costureira.
A Virtudes, uma cozinheira de se lhe tirar o chapéu.
A que falta chamava-se Antónia e foi quem me gerou.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Gnomo do amor

Durante o dia esconde-se sob a aparência de um cogumelo, deixando, no entanto, ostentar a sua preciosa veste de ouro puro e entretém-se deitando feitiços de amor aos namorados que por ali passam, de mãos dadas, trocando carícias.
Chega-se a noite e o gnomo do amor, de seu nome Morag, dá vida ao cogumelo. Estica-se, percorre as margens da ribeira e deleita-se a contemplar as estrelas que enchem o céu.
O sol está prestes a nascer. O gnomo, coberto de orvalho, volta a ser um cogumelo dourado.
Sonhei ou será mesmo verdade?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O farol

Um farol significa uma navegação segura.
Um farol pode ser cada um de nós.
Quantos dos nossos amigos esperam um sinal, uma palavra, para que as suas vidas sigam um rumo seguro?
E quantas das vezes dispensamos o faroleiro que deveria existir no nosso ser?
Tantas vidas que naufragaram.
E quantas por falta de uma simples palavra, de um sinal, de uma luzinha na sua vida.
O farol pode ser cada um de nós. Porque a vida que corre ao nosso lado é como um imenso mar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Objectivos

Chegaram juntas à estação. Pediu à amiga que lhe segurasse a mala. E, sem ninguém o esperar, atirou-se para a frente do comboio.
No emprego, os pais tentam cumprir os objectivos que lhes foram destinados. E para isso, não chegam os dias. Ocupam parte da noite.
Choram porque não sabem a razão que levou a filha ao suicídio.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tempus fugit

No início tudo é pequenino.
O corpo, o sentimento.
Depois, com o decorrer do tempo, avoluma-se o ser e o sentir.
É então que nos damos conta de como tudo anda depressa.
E o que era pequenino, no início, é agora um amigo bem maduro.
O que nos leva a pensar na fase seguinte.
E ficamos tristes.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Oril

Um meu amigo fez hoje anos.
E, sem o querer, revisitei uma parte da vida, na qual cabem muitos projectos em conjunto, muitas aspirações, muitos sonhos e, sobretudo, muito trabalho.
Um dia aprendemos um jogo dos homens, o oril.
Mas demorou mais a compreender que a vida é um jogo bem mais complicado, quantas das vezes sem quaisquer regras.
No jogo da vida existem outros factores mais importantes que o conhecimento, a inteligência, a capacidade de trabalho e a sorte.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

teia de aranha

A sociedade é uma teia de aranha.
Podemos querer fugir, mas a fina teia cobre tudo.
Ali ficam presas as vitimas.
Ali esperam os predadores.
Porque a teia não tem razão de existir sem o povo que a alimenta. Mas também não o tem sem aqueles que do povo se alimentam.

A minha canoa

Olho a imensidão do mar!
Perco a noção do tempo quando contemplo as ondas a baterem suavemente nas rochas.
Por vezes dou comigo a navegar na minha canoa, ouvindo o seu sussurrar, sentindo as suas vagas.
Que me interessa a pequenez de algumas pessoas?
A natureza, na sua criação sem limites, também gera pequenas aberrações.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Transformação

Que ser estranho o homem.
Amigo, colega, crítico, quando é um igual.
Altivo, submisso do sistema, castigador dos antigos colegas, quando deixa de ser um igual.
Que transformação se opera no ser humano quando lhe é atribuído algum poder.
Que necessidade de se sobrepor ao semelhante.
A evolução em todas as ciências, desenvolvida pelo homem, não foi acompanhada pela evolução da ética e do humanismo dos próprios homens.
Muitas das vezes agradeço por não ter qualquer poder, porque, com certeza, também me transformaria.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Uma vaca real

Nada tens a ver com as vacas do Farmeville.
És uma vaca real.
Bem pediste para terminares a refeição antes de posares para a foto. Mas o fotógrafo foi teimoso. Que assim ficavas charmosa, bonita com os teus brincos em castanho.
E antes que tu pudesses dizer alguma coisa, flash. Foto tirada.
Mas deixa que te diga, que ficaste bem. Esse pedacinho de erva, lembra os bolinhos que a tua lavradora come no salão, enquanto saboreia o chá de camomila servido pela Patrícia.
Isto para não falar no teu olhar. Com o devido respeito, não é muito diferente do dela quando descompõe os seus empregados.

Tito Paris

Esta foto é de finais de 2009.
Contudo, o Tito Paris foi-me apresentado na cidade da Praia, em 2002 por um amigo, o Marciano Moreira, na altura um alto responsável da administração pública de Cabo Verde, hoje um defensor do crioulo. Mas sempre amigo, porque os amigos não o são só de momento.
O Tito Paris, esse, desde então, passei a admirá-lo.
Talvez sejam estigmas do passado, porque a minha mãe adorava as mornas de Cabo Verde.
Talvez seja porque o Tito representa um Cabo Verde de vanguarda, um povo lutador. Que honra ter amigos de Cabo Verde.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Farmville

Quais as causas do sucesso do farmville? Da construção da quinta? Das plantações, das árvores, dos animais?
Será a nostalgia do passado?
A necessidade do regresso às origens?
O stress provocado por uma sociedade que criámos e que nos destrói?
Serão sinais de mudança?
Que as mudanças na sociedade levam décadas, senão séculos.
Mas as transformações começam sempre por algum lado.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Porto Covo

Porto Corvo surgiu-nos depois de uma já extensa viagem.
Foi ali que retemperámos forças.
Foi, também em Porto Covo, que fotografámos duas sombras entrelaçadas sobre o mar.
Porto Corvo lembra o Rui Veloso:
«Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente,
Ouvindo um rouxinol na redondeza,
No calmo improviso do poente
»

1974

1974!
O tempo em que se cantava o Zeca Afonso e se esperavam dias diferentes.
Momentos de uma juventude inquieta, revoltada e repleta de ideologia.
Mas também altura de confraternização.
Um dia destes descobri no facebook o filho do meu amigo Artur. É para ele esta foto.