sábado, 2 de julho de 2011

Carta a minha mãe

Querida Mãe
Faz anos que partiste e me deixaste só. Tantos, quantos um meu amigo faz de vida. Vinte anos.
Sempre te pedi que me ajudasses aqui na terra. E tu, risonha, estiveste sempre ao meu lado.
Desta vez não te peço que me ajudes aqui na terra, porque já não vale a pena.
Imaginando que existe reencarnação, pedia-te um favor. O de fazeres ver ao gestor das almas, que a alma do teu filho já está cansada de reencarnar, sempre, em corpos que foram escravos, servos, plebeus, trabalhadores por conta de outrem.
E acreditando que esta alma já expiou o suficiente, é altura de reencarnar novamente, mas agora no corpo de um recem nascido numa família detentora do capital. Sabes, nem que eu reencarnasse mil vezes veria o povo deste país reagir às injustiças. Assim, após ter expiado pecados anteriores - que eu julgo estarem já pagos - gostaria de vir de novo à terra sem que me obrigassem a contribuir para a comunidade, deixando-me enriquecer, como acontece actualmente, sejam rosas ou laranjas os donos do poder (são os actuais senhores e seus vassalos).
Querida mãe, sei que não sabes ler, mas alguma alma te transmitirá esta carta.
Saudades do teu filho que sempre te adorou.

 

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