Nesta árvore que se encontra junto ao esteiro da Azambuja, alguém pintou, de um vermelho vivo, a bordadura da sua cavidade.
Como que uma estátua viva do que lhe ia na alma e no corpo.
E a árvore, desconhecendo os motivos da pintura, oferece o seu seio a inúmeros seres vivos que nela se albergam e se reproduzem.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
O pastor
O sol aqueceu o Alentejo.
E, como as árvores escasseiam, as ovelhas ocuparam toda a sombra da azinheira.
Aproveitaram para carpir as mágoas. Os terrenos estavam sem pasto e, nos últimos dias, até os torrões tiveram de comer.
À sombra da azinheira, reunidas em assembleia geral, enquanto se escondiam do sol, decidiram então, que a solução era mudar de pastor.
Feita a votação elegeram um novo pastor, que lhes havia prometido erva com fartura.
No ano seguinte encontrei as ovelhas, quase pele e osso, debaixo da mesma azinheira.
E, como as árvores escasseiam, as ovelhas ocuparam toda a sombra da azinheira.
Aproveitaram para carpir as mágoas. Os terrenos estavam sem pasto e, nos últimos dias, até os torrões tiveram de comer.
À sombra da azinheira, reunidas em assembleia geral, enquanto se escondiam do sol, decidiram então, que a solução era mudar de pastor.
Feita a votação elegeram um novo pastor, que lhes havia prometido erva com fartura.
No ano seguinte encontrei as ovelhas, quase pele e osso, debaixo da mesma azinheira.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Família de gatos
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Grades
São já muitas as vezes em que espreita pela larga vidraça. Ao fundo tem o Tejo que corre, livre para o mar.
Mas não é isso que vê.
Em vez da janela larga, vê grades de ferro, grossas, como se de uma prisão se tratasse.
E do lado de lá, de fora das grades, bem perto, uma enseada que leva ao mar, à liberdade.
Tem saudades dos tempos em que, através da vidraça, via o Tejo a correr.
E, no entanto, o prédio não tem grades. Tem janelas grandes de onde se vê o Tejo.
Mas não é isso que vê.
Em vez da janela larga, vê grades de ferro, grossas, como se de uma prisão se tratasse.
E do lado de lá, de fora das grades, bem perto, uma enseada que leva ao mar, à liberdade.
Tem saudades dos tempos em que, através da vidraça, via o Tejo a correr.
E, no entanto, o prédio não tem grades. Tem janelas grandes de onde se vê o Tejo.
sábado, 26 de junho de 2010
A ceifa
Partiam de madrugada, ainda o sol não tinha nascido.
Ceifavam o trigo louro, o pão que comemos todos os dias.
À hora de almoço repartiam o conduto, por vezes uma sardinha para as duas.
Continuavam a labuta. Despegavam ao pôr-do-sol, não sentindo já o corpo, tamanho era o cansaço.
Um dia, acabaram por migrar para a grande cidade. Em Lisboa, começaram por servir em casas de senhoras abastadas. Depois, conheceram o homem da sua vida.
Os filhos ouviram que antigamente se trabalhava no campo, sem alcançarem muito bem o sentido desse trabalhar. Os netos nem sonham como foi difícil a vida.
Ceifavam o trigo louro, o pão que comemos todos os dias.
À hora de almoço repartiam o conduto, por vezes uma sardinha para as duas.
Continuavam a labuta. Despegavam ao pôr-do-sol, não sentindo já o corpo, tamanho era o cansaço.
Um dia, acabaram por migrar para a grande cidade. Em Lisboa, começaram por servir em casas de senhoras abastadas. Depois, conheceram o homem da sua vida.
Os filhos ouviram que antigamente se trabalhava no campo, sem alcançarem muito bem o sentido desse trabalhar. Os netos nem sonham como foi difícil a vida.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Jardineira-bruxa
Maria acabou de limpar o jardim.
Arrumou o regador, o sacho, o ancinho.
Depois pegou na sua vassoura e na cestinha do lanche e partiu.
Montada na vassoura, porque Maria, quando não é jardineira, ganha algum dinheiro com a actividade de bruxa.
Lá vai ela, tendo por detrás a lua.
Maria, a jardineira-bruxa.
Que os tempos de hoje são bem difíceis e os meninos, futuros bruxos, esperam pelo comer.
Arrumou o regador, o sacho, o ancinho.
Depois pegou na sua vassoura e na cestinha do lanche e partiu.
Montada na vassoura, porque Maria, quando não é jardineira, ganha algum dinheiro com a actividade de bruxa.
Lá vai ela, tendo por detrás a lua.
Maria, a jardineira-bruxa.
Que os tempos de hoje são bem difíceis e os meninos, futuros bruxos, esperam pelo comer.
Imagens do futuro
Depois de acabar o curso, olhou para o boneco que lhe ofereceram e achou-o engraçado. Arrumou-o na estante.
Vendo-se ao espelho, um dia destes, viu do outro lado a mesma barriga, os óculos, a careca. Tudo o que caracterizava o boneco.
Despiu o fato, vestiu umas calças de ganga, uma camisa aos quadrados, uns ténis.
Só não conseguiu tirar a barriga, os óculos, a careca.
Vendo-se ao espelho, um dia destes, viu do outro lado a mesma barriga, os óculos, a careca. Tudo o que caracterizava o boneco.
Despiu o fato, vestiu umas calças de ganga, uma camisa aos quadrados, uns ténis.
Só não conseguiu tirar a barriga, os óculos, a careca.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Degradação
Tirou os sapatos e sentou-se a descansar no banco do jardim.
Tinha sido um dia complicado. Em casa, no trabalho.
Mas o que não conseguia afastar do pensamento eram aquelas duas imagens degradantes que presenciara.
Uma mulher, em pleno Martim Moniz, agachou-se e, perante as pessoas que passavam, urinou em plena via pública.
E o pedinte, perto do Rossio, que fez do chão da rua a mesa do almoço e ali espalhou os feijões que ia comendo. Sinais da degradação da espécie? Ou a vida do submundo sempre foi assim?
Tinha sido um dia complicado. Em casa, no trabalho.
Mas o que não conseguia afastar do pensamento eram aquelas duas imagens degradantes que presenciara.
Uma mulher, em pleno Martim Moniz, agachou-se e, perante as pessoas que passavam, urinou em plena via pública.
E o pedinte, perto do Rossio, que fez do chão da rua a mesa do almoço e ali espalhou os feijões que ia comendo. Sinais da degradação da espécie? Ou a vida do submundo sempre foi assim?
terça-feira, 22 de junho de 2010
Os peixes do lago
Um homem de coragem
Um dia meteu as roupas numa mochila e partiu.
Hoje, longe de tudo, na terra de ninguém, vive no cimo daquelas árvores, na cabana que construiu.
Encontrei-o, um dia destes. Convidou-me para beber um café feito por si, como antigamente as nossas avós o faziam.
E ali estivemos, saboreando a bebida quente, mas também o silêncio de ambos.
Para ser sincero, regressei com uma sensação de cobardia. Nunca tive um laivo de coragem, que fosse. Tive sempre medo de tudo e, principalmente, de me ver só.
Hoje, longe de tudo, na terra de ninguém, vive no cimo daquelas árvores, na cabana que construiu.
Encontrei-o, um dia destes. Convidou-me para beber um café feito por si, como antigamente as nossas avós o faziam.
E ali estivemos, saboreando a bebida quente, mas também o silêncio de ambos.
Para ser sincero, regressei com uma sensação de cobardia. Nunca tive um laivo de coragem, que fosse. Tive sempre medo de tudo e, principalmente, de me ver só.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
domingo, 20 de junho de 2010
O pescador na falésia
Do alto da falésia lança o anzol ao mar.
Só.
Um dia, há um grão de areia que cede. Um só grão será o suficiente para que a falésia perca um bocado.
E com esse bocadinho que escorrega para o mar, pode ir o pescador.
Por vezes penso que todos nós temos a vida em falésias. Temos a vida presa por grãozinhos de areia.
Só.
Um dia, há um grão de areia que cede. Um só grão será o suficiente para que a falésia perca um bocado.
E com esse bocadinho que escorrega para o mar, pode ir o pescador.
Por vezes penso que todos nós temos a vida em falésias. Temos a vida presa por grãozinhos de areia.
sábado, 19 de junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Girassol
O comedouro
Fiz um comedouro para os pássaros. Bem junto ao lago para, depois do repasto, darem uma banhoca e beberem um pouco.
Estou impressionado. A notícia depressa correu entre a passarada.
Não sei como se organizaram. O certo, é que, enquanto uns comem, outros esperam num limoeiro encostado ao comedouro.
Mas consegui o que queria. Ter uma grande chilreada à minha volta!
Estou impressionado. A notícia depressa correu entre a passarada.
Não sei como se organizaram. O certo, é que, enquanto uns comem, outros esperam num limoeiro encostado ao comedouro.
Mas consegui o que queria. Ter uma grande chilreada à minha volta!
terça-feira, 15 de junho de 2010
Santo António Negro
Santo António!
Um Santo António negro com o seu menino Jesus, também negro.
Arte popular de S. Tomé.
Não sabia o artista, que encontrei numa primeira vez na loja que têm perto do cinema na cidade de S. Tomé e numa segunda vez no Hotel Pestana, também naquela cidade, que existiu um outro Santo António, nascido na Líbia, feito escravo na Sicília, pastor e eremita.
E também não conhecia os sermões aos peixes, em especial aos tubarões, para que não comessem os peixes mais pequenos.
Isto, porque não valeria a pena fazer sermões aos tubarões humanos. Estes, apesar de muito crentes, são completamente descrentes com os seus semelhantes.
Um Santo António negro com o seu menino Jesus, também negro.
Arte popular de S. Tomé.
Não sabia o artista, que encontrei numa primeira vez na loja que têm perto do cinema na cidade de S. Tomé e numa segunda vez no Hotel Pestana, também naquela cidade, que existiu um outro Santo António, nascido na Líbia, feito escravo na Sicília, pastor e eremita.
E também não conhecia os sermões aos peixes, em especial aos tubarões, para que não comessem os peixes mais pequenos.
Isto, porque não valeria a pena fazer sermões aos tubarões humanos. Estes, apesar de muito crentes, são completamente descrentes com os seus semelhantes.
Pai e filha
Hoje sussurrei ao sol para dar mais luz, muito mais luz a este dia.
Lembrei o céu de vestir o seu melhor fato, aquele azul-turqueza que só usa em ocasiões especiais.
Falei com os pássaros, eles prometeram cantar para suavizar os teus ouvidos.
Não me esqueci das flores, ficaram de perfumar o mundo neste dia.
Pedi-lhes que perfumassem o TEU mundo, neste TEU dia.
Tal como tu perfumas, iluminas, dás cor e musica ao meu pequeno mundo.
Tal como tu o preenches e adoças porque existes.
Tal como me amas sem fronteiras e eu te amo a ti PAI.
(Uma poema da minha filha no dia do pai em 2005)
Lembrei o céu de vestir o seu melhor fato, aquele azul-turqueza que só usa em ocasiões especiais.
Falei com os pássaros, eles prometeram cantar para suavizar os teus ouvidos.
Não me esqueci das flores, ficaram de perfumar o mundo neste dia.
Pedi-lhes que perfumassem o TEU mundo, neste TEU dia.
Tal como tu perfumas, iluminas, dás cor e musica ao meu pequeno mundo.
Tal como tu o preenches e adoças porque existes.
Tal como me amas sem fronteiras e eu te amo a ti PAI.
(Uma poema da minha filha no dia do pai em 2005)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
A minha rã preferida
Ali fico especado, a olhar para o lago.
Espero que a minha rã preferida apareça para a fotografar.
Quem sabe se não será uma princesa encantada por uma bruxa má, à espera que alguém quebre o encantamento.
Mesmo que não seja uma princesa, é uma filha da natureza. Como diria S. Francisco de Assis, uma irmã.
E temos de reconhecer que é linda. E canta que nem a Nina Hagen.
Espero que a minha rã preferida apareça para a fotografar.
Quem sabe se não será uma princesa encantada por uma bruxa má, à espera que alguém quebre o encantamento.
Mesmo que não seja uma princesa, é uma filha da natureza. Como diria S. Francisco de Assis, uma irmã.
E temos de reconhecer que é linda. E canta que nem a Nina Hagen.
domingo, 13 de junho de 2010
Um menino perdido na floresta
Ouvi hoje que um menino de oito anos andou perdido na floresta da Ilha do Príncipe, durante onze meses.
Na floresta, o menino não esteve só. Um macaco adoptou-o. Subia aos coqueiros, partia os cocos e dava ao menino.
Teve sorte o menino.
Se se tivesse perdido na floresta onde vivemos, provavelmente, as pessoas teriam passado ao seu lado sem o verem.
(foto de uma macaquinha de S. Tomé, tirada no restaurante da D. Celeste, em Guadalupe)
Na floresta, o menino não esteve só. Um macaco adoptou-o. Subia aos coqueiros, partia os cocos e dava ao menino.
Teve sorte o menino.
Se se tivesse perdido na floresta onde vivemos, provavelmente, as pessoas teriam passado ao seu lado sem o verem.
(foto de uma macaquinha de S. Tomé, tirada no restaurante da D. Celeste, em Guadalupe)
sábado, 12 de junho de 2010
Bicho-pau
O bicho-pau, sendo um bicho, assemelha-se a um pau, tornando-se mesmo invisivel nos gravetos, na pequena ramagem. É um bicho que não quer ser bicho.
O homem é cada vez mais um bicho, não obstante a camuflagem que ostenta. É um bicho que quer ser bicho.
(Foto da exposição de insectos no Jardim Botânico Tropical)
O homem é cada vez mais um bicho, não obstante a camuflagem que ostenta. É um bicho que quer ser bicho.
(Foto da exposição de insectos no Jardim Botânico Tropical)
Criaturas
Com os olhos que a terra me há-de comer, vi vida dentro desta árvore.
Porque no interior do seu tronco existe uma cabana onde habitam criaturas da natureza.
E, do seu interior, espreitam os humanos que por ali passam, já corcundas, que o peso do ser e do estar é grande.
E as criaturas ficam felizes por não serem humanos!
(Foto no Jardim Botânico Tropical)
Porque no interior do seu tronco existe uma cabana onde habitam criaturas da natureza.
E, do seu interior, espreitam os humanos que por ali passam, já corcundas, que o peso do ser e do estar é grande.
E as criaturas ficam felizes por não serem humanos!
(Foto no Jardim Botânico Tropical)
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Jogos eróticos
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Parar o tempo
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Um pescador na floresta
terça-feira, 1 de junho de 2010
Ribeira de Santarém - 2010
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